Currículo

20 de jun. de 2010

Professores de yoga ou eterno aprendizes?



Alguns podem dizer que é difícil permanecer no pouso sobre a cabeça mas acontecimentos de hoje me lembraram uma história que vivenciei nesta trajetória de professora de yoga e  gosto muito de contar pois muda toda esta relação de professor, aluno e experiências que o yoga pode nos proporcionar. E digo que difícil é estarmos sempre atentos a todo o aprendizado que a prática do yoga pode nos trazer.


Em um determinado grupo que trabalhei como professora, durante um tempo realizavamos aula em uma quadra esportiva com uma turma de aproximadamente 100 alunos, o objetivo era social, os alunos participavam de um projeto com objetivos de proporcionar atividades que possam melhorar a qualidade de vida daquela comunidade.Imagine a cena: Uma grande turma, alunos praticantes a aproximadamente 1 ano regularmente das aulas. Eu já havia começado a aula e naquele dia eu havia proposto um relaxamento inicial, todos estávam calmos, deitados sobre seus mat e estávamos na segunda postura da aula quando uma aluna entrou na quadra de uma maneira muito eufórica, eu estava em um canto da quadra, conduzindo a aula com um microfone e ela, de uma maneira muito espontânea, gritou:
- Oi professora, hoje é o meu primeiro dia de aula, posso tirar a roupa aqui mesmo???
Esta pergunta ecoou naquela quadra perante o silencio de todos os praticantes que estavam realizando um asana bem tranquilo. Tentei o mais rápido possível me aproximar dela e tentar acalmá-la, explorando uma linguagem corporal para ela permanecer em silencio que eu estava chegando e ira ajudá-la, mas estes segundos duraram uma eternidade e enquanto eu me aproximava, deu tempo de ela exprimir várias opiniões para toda a turma. Afirmações do tipo: 
- Nossa, que turma silenciosa!
- Professora eu me atrasei por que estava cuidando de dois cachorros que achei na rua.
- Eu também terei que tirar o sapato?? ... entre outras.
Me aproximei dela, orientei que ao lado da quadra havia um banheiro que ela poderia se trocar e colocar uma roupa mais apropriada e que posterior a isso, em silencio ela poderia deitar em um colchonete que eu deixaria pronto na entrada da quadra. Quando ela se dirigiu para o vestiário pensei comigo, eis que surge um desafio, percebi que esta aluna tinha um perfil diferente de todos os alunos que eu já tive. 
Ela voltou para a quadra, falou em voz alta mais algumas coisas e começou a acompanhar o grupo. Mas durante toda a aula, fazia perguntas, achava graça de muitas coisas e da sua maneira ia tendo seu primeiro contato com esta modalidade que tanto adoramos. 
Após o final da aula, alguns conhecidos dela, me alertaram que esta aluna possuia alguns problemas mentais, relacionados a um tipo de retardo e que a fizeram ser afastadas do seu trabalho. E ao mesmo tempo estes alunos concordaram que o yoga poderia ser uma atividade legal para ela. Confirmei que seria um grande desafio.
Nossos encontros semanais continuaram, ela tornou-se uma aluna bem frequente, sempre com dificuldades de chegar no horário correto, de manter sua concentração, mas estava sempre lá... e ao mesmo tempo, nunca tive nenhum comentário dos colegas de turma sobre o comportamento dela. O que me deixa muito feliz, comecei a perceber que estávamos todos praticando um yoga verdadeiro.
Passado cerca de 8 meses de prática e no dia de encerramento das aulas naquele ano, recebi um carinhoso abraço desta aluna e um comentário que me deixou extremamente emocionada, guardo estas palavras com muito carinho na minha mente como se este momento tivesse acontecido a poucos minutos atrás:
- Professora, eu não sei exatamente o que a gente faz nesta aula eu também não sei o por que, mas queria contar para a sra. que esta aula faz eu sentir umas coisas bem diferentes. Parece que fica mais fácil de pensar,  fica mais fácil de respirar e eu me sinto mais feliz. Não sei explicar direito, mas meu dia fica muito mais feliz quando eu faço yoga com vocês. Meus pensamentos ficam calminhos....

Preciso explicar mais alguma coisa? Que todos os Deuses me livrem do preconceito que pode aparecer em alguns momentos da nossa vida e me senti muito grata por vivenciar esta história.